A Biblioteca
Apostólica Vaticana disponibilizou na internet o Códex Vaticano completo.
Datado do século 4º d.C., esse é um dos mais importantes manuscritos bíblicos.
Como de costume, a mídia destaca os aspectos mais intrigantes do assunto. O
blog de Reinaldo José Lopes menciona dois pontos:
1. “O códex
não traz o finalzinho do Evangelho de Marcos, no qual o Jesus ressuscitado
aparece aos discípulos. [...] Isso levou muitos especialistas a postular que o
atual final de Marcos é uma ‘versão estendida’ inserida por um autor que viveu
depois do evangelista.”
Essa
informação está correta. Marcos 16:9-20 não faz parte do texto escrito
originalmente por Marcos, mas foi acrescentado na primeira metade do segundo
século. “Nenhum dos términos conhecidos do Evangelho de Marcos, nem mesmo a
interrupção em 16:8 parece representar de fato o original. Mas, uma vez que
todos os evangelistas ou foram testemunhas oculares dos fatos que relataram, ou
tiveram acesso às melhores tradições evangélicas disponíveis no período apostólico,
podemos presumir que o verdadeiro final de Marcos não diferia grandemente
daquele encontrado nos demais Evangelhos” (Paroschi, p. 214).
2. “E, no
Evangelho de João, a famosa cena da adúltera e do ‘atire a primeira pedra quem
não tiver pecado’ também não consta desse manuscrito, o que também indicaria
que esse trecho não foi escrito por João.”
Também está
correto. João 7:53–8:11 realmente não foi escrito por João. Mas essa história,
que já era conhecida na segunda metade do segundo século, “é absolutamente leal
ao caráter de Jesus” e “contém todos os indícios de ser historicamente
autêntica” (Paroschi, p. 228, 230). “É bem provável que o relato consista num
fragmento de material evangélico autêntico preservado mediante alguma tradição
paralela (não canônica) e que mais tarde acabou sendo anotado à margem do
Evangelho de João” (p. 228). Contudo, isso “não é suficiente para garantir-lhe
condição canônica” (p. 230).
O melhor
estudo em português sobre os manuscritos do Novo Testamento foi escrito pelo
teólogo adventista Wilson Paroschi e intitula-se A Origem e a
Transmissão do Texto do Novo Testamento (Barueri, SP: Sociedade
Bíblica do Brasil, 2012). Marcos 16:9-20 e João 7:53–8:11 são discutidos,
respectivamente, nas páginas 208-215 e 222-231.
Em minha
opinião, o estudo dos manuscritos bíblicos é um dos assuntos mais fascinantes
da teologia. Essa área é conhecida como “crítica textual”. E, ao contrário do
que eu posso ter dado a entender acima, esse é um dos melhores instrumentos
para fortalecer nossa fé na Palavra de Deus. Através de um método realmente
científico, aceito até por céticos, podemos garantir, para além de qualquer
dúvida razoável, que o texto bíblico que temos em nossas mãos é essencialmente
o mesmo que foi escrito pelos autores bíblicos.
Se você
procura um material esclarecedor, interessante e descontraído sobre o assunto,
recomendo o podcast BibleCast, episódio 20B, “A Bíblia no banco dos réus II”,
disponível aqui: http://biblecast.com.br/
(Matheus
Cardoso, teólogo formado pelo Unasp)
Leia também este texto esclarecedor do professor Saulo Nogueira.
Leia também este texto esclarecedor do professor Saulo Nogueira.
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